sábado, 16 de agosto de 2014

Mãe, não caí!


Missão cumprida! Concluí a minha última Volta a Portugal em bicicleta.

Antes de anunciar publicamente que intencionava participar de novo na Volta a Portugal em bicicleta, anuncio esse feito a 4 de Novembro do ano passado (http://vitorgamitonavolta.blogspot.pt/2013/11/vitor-gamito-na-volta-primeiro-anuncio.html), estive durante alguns meses a tentar avaliar os riscos que esta decisão comportava.
A 4 de Novembro ainda não tinha uma equipa para representar e nem o aval do centro de medicina desportiva. Sem estes dois requisitos este desafio não seria possível. Por outro lado já tinha o apoio da família, dos amigos e inclusive do presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo.
Desde o momento do meu anúncio nas redes sociais, juntou-se mais uma grande força de apoio, os fãs.

Apesar do apoio das pessoas mais importantes, havia uma grande margem de risco associado. E se eu não passasse nos exames médicos? E se eu não arranjasse equipa? E se eu não aguentasse a exigência da preparação e tivesse que desistir a meio da mesma? E se eu não aguentasse o ritmo da Volta a Portugal e tivesse que desistir antes de chegar a Lisboa? Afinal já tenho 44 anos e os últimos 10 estive afastado da competição.
Muitos “ses”? Talvez, mas mesmo assim decidi arriscar, mesmo sabendo que poderia defraudar as expectativas de milhares de fãs e dos amigos que sempre viram um Vitor Gamito como um lutador e um vencedor.

Numa outra fação de apoio estiveram os “velhos do Restelo”, sempre desconfiados, e diria mesmo chocados com este meu atrevimento. E quando escrevo  “apoio”, não é engano, eles também me deram muita força para seguir sempre em frente e não desistir.
Estes “velhos do Restelo” eram compostos sobretudo por antigos ciclistas frustrados ou velhas glórias com receio de perderem a sua estátua – um até me disse, minutos antes de começar a Volta: "espero que saibas o erro que estás a cometer!” , treinadores de bancada e alguns jornaleiros ainda do período dos dinossauros.

Mas para ser bem sucedido nesta dura empreitada, teria que mudar alguns dos meus hábitos mais recentes, adquiridos após ter deixado a alta competição, em 2004. Sobretudo as noitadas regadas com muita caipirinha, e a alimentação descuidada. Talvez isto tenha sido o mais difícil de cumprir. Submeter-me novamente às mesmas privações que me submeti durante 20 anos enquanto profissional de ciclismo!

Felizmente nunca parei totalmente com a atividade desportiva, inclusive no últimos 5 anos comecei a fazer BTT numa base regular, participando mesmo em competições a nível internacional, o que facilitou bastante o meu regresso ao ciclismo profissional. Claro que a exigência física e sobretudo a competividade deste último é muito superior. Os 9 meses que faltavam até à Volta a Portugal teriam que ser de um empenho e dedicação absolutos. Mesmo assim nunca conseguiria recuperar os 10 anos de atraso e de “má vida”.
Sobre a minha preparação não me vou alongar, pois foi descrito quase ao pormenor nas várias crónicas que regularmente coloquei no meu Facebook e no meu blogue.

Claro que seria tudo fácil demais se não tivesse pelo menos um obstáculo para transpor. A lesão no joelho direito que me obrigou a parar o mês todo de fevereiro foi o maior obstáculo que me apareceu, e que colocou quase em risco a continuação deste projeto.

Nunca escondi a razão ou os objectivos do meu regresso à Volta. Não regressei á procura de enriquecer o meu palmarés, mas sim para ter a oportunidade de cumprir a última Volta a Portugal, consciente que esta seria mesmo a última. No fundo fazer a despedida que me foi impedida de fazer há uns anos atrás e escrever o último capitulo do meu livro “As Voltas de uma Carreira”.

Mas queria aproveitar esta Volta de despedida também para fazer “as pazes” com o grande público.
Tenho consciência que quando competia ao mais alto nível, não era um ciclista comunicativo, reservado até. Mas era a forma que eu tinha para me concentrar a 100% na minha missão principal: chegar em primeiro à meta e VENCER.

Mas mais recentemente o BTT ensinou-me que para Vencer não é necessário chegar em primeiro. Quando comecei a participar em provas de BTT muito duras, comecei-me a aperceber que muitos participantes, mesmo a cortar a meta horas depois dos primeiros, festejavam como se tivessem vencido a prova. E tinham! Esses atletas não participavam para competir contra outros atletas, mas para se superarem a eles próprios. Algo que eu desconhecia ou não tinha pensado nisso. Superação pessoal. Algo que devia ser ensinado e incutido aos jovens que dão as primeiras pedaladas no ciclismo.

Nesta última Volta eu também queria vencer, mas sem necessidade de chegar em primeiro. E como? Recebendo o carinho e o reconhecimento do público.
Esta seria uma Volta a Portugal diferente. A Volta de agradecimento aos fãs que me apoiaram durante os 20 anos de carreira, a Volta que iria desfrutar cada momento de uma forma muito intensa e emotiva. A Volta que não interessaria a classificação mas sim a quantidade de recordações que ficariam na minha memória.
E venci!

No cantinho especial onde tenho guardada a Volta a Portugal que venci porque cheguei em primeiro, ficará esta última, que também venci mas porque foi a que me deixou mais recordações, a que me fez chorar de emoção e alegria, a que me arrepiou em plena subida à Torre, a que mais ouvi gritar o meu nome, a que mais fotografias e autógrafos me pediram, a que mais mensagens recebi com testemunhos que me puseram, uma vez mais, uma lágrima ao canto do olho.

E mesmo não recebendo o reconhecimento da organização ou das entidades oficiais, esta foi a despedida perfeita, que qualquer desportista ambiciona ter. Foi a despedida e o reconhecimento dos fãs.

Resta-me agradecer do fundo do coração, a todos os parceiros que me apoiaram nesta loucura. Sem eles isto não teria sido possível. Agradecer à minha família, sobretudo à minha mulher, por me apoiarem incondicionalmente e mais uma vez cederem parte do tempo que lhes seria destinado.
Agradecer ao Mário Rocha, aos meus colegas e a todo o staff da equipa LA-ANTARTE-ROTA DOS MÓVEIS por me terem acolhido de uma forma incrível!
Agradecer aos amigos por estarem ao meu lado nos momentos mais difíceis e nunca terem deixado de acreditar.
E por fim, agradecer aos milhares de fãs que me deram força nestes duros meses de preparação e que gritaram o meu nome nas estradas de Portugal, ao ponto dos ciclistas russos pensarem, nas primeiras etapas, que “gamito” seria uma palavra portuguesa sinónimo de “força” ou “bora lá” ☺

E agora?
Isto não foi uma despedida, mas sim o encerramento, ainda que tardio da minha carreira como ciclista.

Depois de uma curta pausa para recuperar da lesão no joelho, irei regressar ao BTT a partir de Setembro, e vou continuar a comunicar e a deixar dicas na minha página de Facebook.

Entretanto irei pensar no próximo desafio para concretizar durante o próximo ano.

Ah, e... mãe, não caí! (http://vitorgamitonavolta.blogspot.pt/2014/07/nao-caiste-filho.html)


#ImpossibleIsNothing com GoldNutrition, BIKE ZONE, Scott Portugal, H2otel Congress & Medical SPA, Shimano Cycling, Fisiotorres Lda, BBB Cycling, GMTSports, Continental, Europcar Portugal, Stages Power SA, Fullwear Equipamentos de Ciclismo

domingo, 10 de agosto de 2014

De costas ou de barriga, eu vou conseguir!




Perdi a conta à quantidade de contra-relógios que fiz durante os meus 20 anos de carreira. Também não sei de cor quantos deles venci. Mas foi seguramente a maioria. Pelo menos lembro-me que fui por duas vezes campeão nacional desta especialidade do ciclismo, a que chamam a “prova da verdade”, e ainda duas vezes campeão nacional de perseguição individual em pista.

Sempre gostei do esforço em solitário. A maioria dos meus treinos eram e ainda são realizados a solo, e talvez seja esta uma das razões por eu saber gerir tão bem as minhas energias durante uma determinada distância em que temos dar tudo o que temos e o que não temos. Claro que a qualidade genética é fundamental para os bons resultados, mas não é menos verdade que o contra-relógio é um exercício de superação e de sofrimento individual.

Ontem realizei o último crono da minha vida. E neste é caso para dizer que dei mais o que não tinha do que o que tinha. Pedalei mais com o coração que com as pernas.
Terá sido o primeiro contra-relógio da minha vida que sabia de antemão que não iria fazer uma boa classificação. Talvez por isso tivesse sentido falta daquele nervoso miudinho que me aparecia horas antes do meu horário de partida, e que ia aumentando até ao ponto de já quase não conseguir falar e nem ouvir ninguém minutos antes do tiro de partida. Este nervoso miudinho e até ansiedade, ontem deram lugar à emoção e ao nó na garganta.

A Volta a Portugal não terminou ontem, mas estava-me a despedir do exercício que mais preencheu o meu palmarés.
Percorri os 29 quilómetros de crono a dar o meu melhor. Mesmo sabendo que este melhor seria muito modesto. Além do cansaço acumulado de já 9 dias de competição, o meu joelho está mesmo no limite.

Durante este exercício estamos apenas com nós próprios. Temos que nos saber incentivar, não perder o foco, e tudo isto no limiar da dor e da angústia.
Ontem só dizia a mim mesmo: “Vamos Vitor, é o último!” O coração e a alma queriam mais, mas as pernas não colaboravam.
Quando terminei o contra-relógio, tinha o 8º melhor tempo. Nada de especial, atendendo que ainda faltavam chegar os melhores. Mas foi um sensação de alivio brutal, e ao mesmo tempo um vazio e uma angústia. Tinha fechado mais um capitulo da minha carreira.
Quando a jornalista da RTP me entrevistou mal cortei a linha de meta, mais uma vez não me consegui conter, e chorei. Tem sido a Volta a Portugal mais emotiva das onze que fiz.

Esta noite pouco dormi. Não sei se por culpa da forte constipação e da dor de garganta que agravaram, ou se pelo facto de hoje ir realizar a última etapa da minha última Volta a Portugal.

Mas como já o disse. Faltam apenas 167,1km para terminar o último capitulo do meu livro “As Voltas de uma carreira”, e de costas ou de barriga eu vou fazê-lo!

Até já, em Lisboa às 17h30.

#ImpossibleIsNothing

sábado, 9 de agosto de 2014

"Há mais marés..."






Ontem cumprimos a etapa mais longa desta Volta a Portugal. 198 quilómetros, com 2.400 metros de subida acumulada, em 4h50. Uma etapa considerada plana, e como tal supostamente mais fácil, ou menos difícil, mas no ciclismo costuma-se dizer que quem torna as etapas fáceis ou difíceis são os ciclistas, e eu acrescento, com a ajuda do S. Pedro. Neste caso o S. Pedro até foi generoso. Ofereceu-nos uma temperatura média de 31,8ºC, mas por outro lado tivemos que “gramar” com vento lateral em grande percentagem do percurso. Sinceramente foi uma das etapas que mais me custou a passar! Não sei se pelo desconforto do tal vento lateral e do sobe e desce constante do relevo desta região, ou se foi mesmo já pelo cansaço de tantos dias a pedalar (e a sofrer) e a ânsia de chegar a Lisboa.

Esta era uma das etapas que eu tinha assinalado com uma cruz para tentar ir para a fuga do dia. Apesar de nunca ter sido um objectivo primordial para mim, gostava de estar pelo menos uma vez em fuga, mesmo sabendo que o mais provável seria ser apanhado antes de chegarmos à meta. Como tem acontecido com todas as fugas nesta Volta a Portugal.

Regra geral que tenta ir para fuga nestas etapas menos decisivas para a discussão da classificação geral são os ciclistas que já estão mais atrasados nesta mesma classificação e não colocam em risco as posições dos melhores classificados. Em parte são fugas facilitadas pelas equipas dos líderes, mas o problema é que são muitos ciclistas a quererem ir para a fuga do dia, acabando por uns anularem as fugas dos outros. A primeira hora de prova é sempre uma “guerra” constante. Com ataques atrás de ataques, até que por obra do destino ou do acaso, meia dúzia de ciclistas conseguem isolar-se e de repente e quase sem explicação lógica a fuga dá-se.
Para a equipa que tem que controlar as operações do pelotão, uma fuga dá sempre jeito. Desde que seja composta por meia dúzia de elementos e que estes não coloquem em perigo a liderança da prova. Quando finalmente se consegue dar uma fuga, a equipa do camisola amarela ou então às equipas que tenham ambição de ganhar a etapa ao sprint, vão controlando o tempo de avanço dos fugitivos. Entre 2 a 5 minutos de avanço será o tempo normalmente consentido. E a fuga acelera mais, o pelotão tem que acelerar também, se a energia ou o empenho dos fugitivos for menor, o pelotão reduz o andamento também. Se os planos correrem dentro do previsto, a ou as equipas que estão a controlar o andamento do pelotão aceleram mais nos últimos quilómetros da etapa e apanham a fuga. Por vezes fazem mal as contas e não conseguem apanhar a fuga.
Nesta Volta as contas têm sido sempre bem feitas e ainda não houve uma fuga, das tais facilitadas, a ser bem sucedida.
A fuga do Rui Sousa no alto da Torre, é outra história. Aí ganha quem está mais forte e não há fugas “facilitadas”.

Estava eu a dizer há dois parágrafos atrás, que hoje tinha planeado tentar ir para a fuga. Simplesmente para “mostrar a camisola” ou dar um ar da minha graça, como alguns adeptos me têm pedido.

Com 20 quilómetros de etapa percorridos, sempre com ataques constantes e uma média horária superior a 45km/h, há 4 ciclistas que se isolam na frente. Ganham rapidamente 30-40 segundos, e apercebi-me que as duas equipas com pretensões a ganhar esta etapa com os seus sprinters – a Tavira e a espanhola Caja Rural, estavam a consentir esta fuga. Seria a minha oportunidade para me juntar a eles.
Desferi um ataque dentro de uma localidade e rapidamente ganhei alguns segundos ao pelotão. Começo a aproximar-me dos ciclistas em fuga. Estariam a 10-20 segundos. Mas quando olho para trás para conferir a distância que já levava do pelotão, vejo a equipa do Tavira a perseguir-me desenfreadamente.
A espanhola Caja Rural tinha permitido a minha fuga, mas a portuguesa Tavira não. Assim que o pelotão me alcança, a perseguição acabou, e os fugitivos que iam ali tão perto começam a desaparecer no horizonte.
Sinceramente achei muito estranho este comportamento do Tavira, e mais propriamente do Manuel Cardoso, chefe de fila desta equipa que mandou os seus colegas fazerem-me a perseguição. Mas cada um sabe de si. Não tenho o direito de criticar as táticas das outras equipas. A única coisa que posso dizer é que “há mais marés que marinheiros”.

Feita a fuga do dia, restou-me ir tranquilamente no pelotão, ajudar os meus colegas a ir buscar abastecimento, dar por vezes abrigo ao meu líder Edgar Pinto, e pouco mais.
Ontem foi daquelas etapas muito desgastantes, não tanto a nível físico, mas sobretudo mental. Muitas horas em cima da bicicleta, com vento lateral e algum calor.
Os últimos quilómetros foram de algum nervosismo e tensão característicos de uma chegada ao sprint.
A fuga mais uma vez foi anulada e por último ganhou um sprínter...russo.

O meu líder Edgar Pinto teve mais uma vez azar. Furou perto da chegada, mas como já foi dentro dos últimos 3 quilómetros, deram-lhe o mesmo tempo do primeiro classificado.

Hoje é dia de contra-relógio. A minha especialidade quando era realmente um ciclista profissional.
Nesta altura estaria já com um nervoso miudinho. Mas hoje, e pela primeira e última vez, na minha carreira, não me vou aplicar ao máximo. Primeiro porque o meu joelho não está condições para isso, depois porque não estou em condições físicas para disputar a vitória na etapa, e por último porque quero ter o prazer, pelo menos uma vez na vida, terminar um contra-relógio sem a boca a saber a sangue

Amanhã será a última etapa da minha última Volta a Portugal, curiosamente termina na minha terra natal e cidade que me viu vencer a Volta a Portugal, há 14 anos – Lisboa

#ImpossibleIsNothing

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

"Obrigado Gamito!"



Etapa rainha da Volta a Portugal - Serra da Estrela

Ansiada por uma dúzia de ciclistas do pelotão, mas temida pela maioria. 
Apesar de nunca ter sido considerado um trepador nato quase sempre me dei bem com os ares da Serra da Estrela. Ao contrário, por exemplo, da Sra. da Graça.  
Venci “apenas” uma vez no alto da Torre, precisamente no ano que consegui levar a camisola amarela até Lisboa. Não me recordo ao certo, mas além dessa vitória, cortei a meta no ponto mais alto de Portugal continental por mais que uma vez em segundo lugar. 
Além da minha vitória isolado no ano 2000, nunca mais me irei esquecer da subida à Torre do ano de 94, um percurso muito parecendo à etapa de ontem, mas em que as condições climatéricas eram terríveis! Chuva, nevoeiro, frio. 
Eu, o Joaquim Gomes, e o Orlando Rodrigues, cortámos a meta na Torre sem sequer nos apercebermos disso! Eu até pensava que nem sequer tínhamos chegado à Lagoa Comprida! Lembro-me de sermos "bloqueados" por uma multidão de pessoas e imediatamente cobertos com mantas e toalhas. 
Eu só perguntava, a bater o dente: “Então mas anularam a etapa?”. E um outro dizia:” Deixem-nos continuar!”. Mas afinal já estávamos na Torre. 
Em 1998 fiz a subida desde a Covilhã até à Torre em fuga com o conhecido ciclista italiano Vlademir Belli. Ele venceu a etapa e eu vesti a amarela. Mas alguns dias depois perdi a amarela.

Óbvio que a minha expectativa para ontem não era nada semelhante à dos anos que acabei de referir. Nunca me passou pela cabeça vencer, nem sequer chegar com os primeiros. Mas confesso que ambicionava um pouco mais em relação ao que consegui fazer.
As minhas sensações têm vindo a melhorar de dia para dia. E estava com a esperança de conseguir chegar com o grupo dianteiro pelo menos até Seia, antes da subida final para a Torre. 
Antes desta ainda subimos da Covilhã para as Penhas da Saúde, uma das mais duras da Estrela, e ainda de Manteigas para as Penhas Douradas, uma das menos difíceis desta serra. Mas o ritmo forte imposto logo á entrada da Covilhã foi forte demais para as minhas capacidades! E tive que ceder! Curiosamente no mesmo local onde há 14 anos desferi o ataque para a vitória! 
Nessa altura já muitos ciclistas tinham ficado para trás. Segui um ritmo capaz de aguentar os cerca de 45 minutos que ainda iria demorar até chegar ao topo das Penhas da Saúde. E ainda guardar energia para as subidas das Penhas Douradas e da Torre. 
Entretanto já bem perto das Penhas da Saúde fui alcançado por pelotão atrasado enorme (cerca de 30-40 unidades) no qual segui praticamente até final da etapa na Torre.

Independentemente da minha prestação física ter ficado um pontos abaixo da minha expectativa, esta será uma etapa que ficará gravada  eternamente na minha memória. 
Enquanto subia pela centésima vez (ou possivelmente mais) às Penhas da Saúde, tinha noção que esta seria a última vez que estava a fazer com dois dorsais fixados na minha camisola. 
Desfrutei  de cada curva, de cada centímetro de asfalto de uma forma muito intensa. Tentei memorizar tudo. A minha respiração ofegante, as dores musculares nas pernas, braços e costas, o suor a cair em fio pelo queixo e testa, o ladrar rouco do cão que continua no bar/café dos Montes Herminios, mas que já mal se ouve tal a idade avançada do animal, mas sobretudo o apoio do público! Em praticamente toda a subida só se ouvia “Gamito, Gamito, Gamito!”. 
E quanto mais me aproximava das Penhas da Saúde mais eram os incentivos. Até que um senhor, a correr ao meu lado, me disse simplesmente: “Obrigado Gamito”. Não resisti mais! Fiquei com um arrepio que desceu da cabeça aos pés, e desatei a chorar! Demasiada emoção para um homem só! 
Os últimos 2 quilómetros desta subida fiz a chorar, e quase perdia as forças de tanta emoção. Para mim, neste dia, acabara de vencer mais uma vez a chegada à Torre! 
Não cheguei em primeiro, mas sim com mais de 30 minutos de atraso, mas isso foi o menos importante, pois tinha recebido a homenagem da minha vida!

Quando cheguei à Torre, cansado, mas com um sorriso nos lábios, desci da bicicleta e beijei a linha de meta. Aquela linha que tantas alegrias me deu em 20 anos de carreira como ciclista profissional. 

A minha única preocupação neste momento é o meu joelho direito. Ontem cedeu  perante tanta dureza. Mas se aguentou até aqui, não terá outra hipótese senão aguentar mais 3 dias.

O caminho prossegue até Lisboa, pois esse continua a ser o meu destino final desta longa viagem que começou à 30 anos quando participei na minha primeira competição, em Peniche. 

OBRIGADO do FUNDO DO CORAÇÃO!


#ImpossibleIsNothing

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Morder a lingua




Estamos a meio da Volta a Portugal. Já passaram 6 dias nos quais pedalámos durante 899 quilómetros. Faltam ainda 6 dias para cumprir o objectivo de chegar a Lisboa, mas um deles é de descanso. O de amanhã.

Se já estou arrependido de ter regressado? Não, claro que não estou! Se bem que há momentos em algumas etapas me faço a pergunta: “O que é me passou pela cabeça para voltar a querer sofrer desta maneira!?” Ontem terá sido um desses dias.
Depois de ultrapassar e suportar etapas como a de Montalegre em que as condições climatéricas foram terríveis, ou mesmo a dureza da etapa da Sra. da Graça, ontem que teoricamente seria uma etapa mais tranquila, foi nesta em que por alguns momentos pensei que poderia estar em casa tranquilo em vez de passar novamente por todo este sofrimento!

A etapa de ontem foi a mais curta até ao momento. Apenas 163 quilómetros. Mas começou logo com uma montanha de 2ª categoria de 7,5km. A missão da minha equipa LA-ANTARTE-ROTA DOS MÓVEIS era ajudar ao meu colega António Carvalho (Toni) a pontuar na mesma. Ele é o líder desta classificação.
Mal deu o tiro de partida, ainda numa fase em descida que antecedia o inicio da montanha, a velocidade foi alucinante! Foram 4.400 metros de descida com curvas e contra-curvas apertadas a uma média de 60km/h. Quando começou a montanha começaram de imediato os ataques. Havia equipas que queriam endurecer ao máximo a corrida para desgastar a equipa do líder (OFM), por outro lado a nossa equipa não queria deixar ir nenhuma fuga para Toni ganhar esta contagem de montanha. Como me sentia bem de imediato fui para a cabeça do pelotão e coloquei um ritmo constante de forma a que os atacantes nunca ganhassem muito tempo de avanço. Desta forma e a faltar pouco para a meta da montanha o Toni arrancaria e pontuava.
Os ataques em subida eram fortes, logo o meu ritmo em subida também tinha que ser forte. Confesso que ia quase no meu limite, mas dava para aguentar aquele ritmo até bem perto do final da montanha. Só que a falta cerca de 3 quilómetros para a meta o Toni, que está fortíssimo e confiante, disparou! E o pelotão encetou uma perseguição.
Com isto e já no limite das minhas forças comecei a descair no pelotão. Só que este já era muito reduzido e de imediato fiquei na cauda das cerca de 70 unidades que o compunham! Tentei aguentar-me na cauda do pelotão, mas não deu! Faltavam apenas 2 ou 3 km para o final desta montanha mas fui obrigado a descair para o meu dos carros de apoio.
Um dos diretores desportivos que passou por mim, disse-me: “calma que vem lá atrás um grupo muito grande”.
Decidi então não insistir mais e aguardei por esse grupo, pois é mais fácil unir esforços para depois perseguirmos o pelotão principal.
Este grupo era enorme, cerca de 50-55 unidades. Quase meio pelotão estava ali. E eu tinha sido um dos responsáveis por tamanho “estrago” ao ter imposto o ritmo na subida. Posso dizer que mordi a minha própria língua. Obriguei muitos ciclistas a ficar para a trás, mas depois acabei também por ir ter com eles!

Restava-nos agora unir esforços e perseguir o pelotão da dianteira. Mas essa tarefa tornou-se bem mais complicada do que nós imaginava-nos. Os ataques lá na frente eram constantes! E enquanto aquilo não acalmasse um pouco, dificilmente conseguiríamos recuperar os cerca de 1-2 minutos que tínhamos de atraso.
Andámos muitos quilómetros a 2-3 minutos desse pelotão. Até que muitos do meu pelotão começaram a perder a esperança de uma junção e deixaram de colaborar na perseguição. O fosso foi aumentando, aumentando, ...

Mentalizei-me então que teria que fazer os cerca de 80-90km do que restava da etapa num pelotão com pouco mais de 50 unidades. Mais uma situação inédita para mim. Fazer uma etapa quase completa num grupo com tanto tempo de atraso! Não é uma situação fácil de assimilar, sobretudo para quem estava habituado a andar sempre na frente, a disputar os primeiros lugares da classificação. No fundo a ser um dos principais protagonistas do espetáculo que é a Volta.
Mas são estas situações e novas experiências que nos tornam cada vez mais fortes e preparados para os obstáculos que a vida nos prepara.

Mesmo integrado num grupo atrasado, foi impressionante as palavras de incentivo que ouvi durante toda a etapa! A palavra que mais se tem ouvido nesta Volta a Portugal, é sem sombra de dúvida “GAMITO”. Fico muitas vezes sem jeito. Os ciclistas estrangeiros que não sabem quem é ou foi o Gamito, acham estranhíssimo um ciclista que vai atrasado ter tanta popularidade.
Mas afinal que é o Gamito? Neste momento já nem eu sei! Só sei o que fiz, em tempos, só não imaginava que as pessoas ainda se lembrassem. Costuma-se dizer que o ser-humano tem memória curta. Mas acho que no que respeita a sentimentos mais profundos, isso não é verdade.

Estamos a meio da Volta a Portugal. O cansaço começa-se a acumular, as dores musculares a aumentar. Subir 5 degraus de escada já se torna doloroso. As massagens começam a deixar de ser agradáveis para serem um mal necessário e importante à recuperação. O bronzeado à ciclista começa a ser mais que evidente, e por mais que comamos, os ossos do corpo começam a ficar mais pontiagudos. E a nossa Ana ( Fisiotorres Lda), cada dia que passa, tem mais “clientes” para tratar.
Isto é a Volta a Portugal! Se eu podia estar confortavelmente num sofá a assistir pela TV a este espetáculo? Podia pois, mas não era a mesma coisa.

Nesta foto, o mais novo do pelotão - 19 anos, com o mais cota, ou seja, eu com 44 anos. Curiosamente chegou ontem comigo no tal grupo atrasado

Obrigado por tudo até mais logo, em Viseu.

#ImpossibleIsNothing

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A última Sra. da Graça




Bom Dia amigos,
Cá estou mais uma vez para fazer um pequeno relato referente ao meu dia de ontem, que culminou com a subida à mítica Sra. da Graça.

Para conseguir escrever estes textos tenho que acordar cerca de uma hora mais cedo em relação aos meus colegas. Confesso que a cada dia que passa esta minha missão fica mais difícil, pois o cansaço começa a acumular e o tempo que temos para dormir é sempre pouco! Inicialmente tinha previsto, além destas crónicas, deixar-vos alguns vídeos sobre os bastidores da equipa, mas trabalhar com edição de vídeo requer muito tempo e para colocar os mesmos online exige uma ligação à internet de qualidade, e isso é coisa que não existe na maioria dos hotéis por onde passamos. Como amanhã é dia de descanso tentarei colocar o vídeo que descrevo a minha nutrição e suplementos durante a Volta a Portugal.

Ontem cumprimos uma das duas etapas mais duras desta edição da Volta a Portugal. Foram 192 quilómetros com quase 4.000 metros de ascensão. Pelo caminho subimos 4 montanhas pontuáveis. Uma de segunda categoria logo ao km30, outra de terceira categoria e por fim duas de primeira categoria, a última destas foi a subida à Sra. da Graça no Monte Farinha em Mondim de Basto. Confesso-vos que destas 4 montanhas o meu maior receio era a primeira logo aos 30 quilómetros de etapa. E porquê? Porque se eu não aguentasse o ritmo imposto pelo pelotão e ficasse para trás logo nesta subida, seguramente que chegaria fora do controlo de tempo e daria por terminada de forma prematura este meu desafio de chegar a Lisboa! A velocidade com que se fez esta subida foi impressionante! Dez quilómetros de subida com 4,5% de inclinação a uma média de velocidade de 32km/h!! Chegámos a atingir os 42km/h! Para não descolar do grupo principal sofri a bom sofrer! Os quilómetros de subida iam passando e o grupo ia ficando mais reduzido, e eu sempre no “pega e larga”! Mas consegui. Não larguei o pelotão que estaria reduzido a cerca de dois terços.
A próxima montanha difícil estava a cerca de 50 quilómetros da chegada e mesmo que ficasse para trás nessa altura não corria o risco de chegar fora do controlo.

Incrível como as coisas mudam. Há 10-15 anos atrás estas contas e estes meus receios não fariam qualquer sentido. Pois eu seria um dos ciclistas que andava la na frente a atacar. Agora estou a ver e a sentir a Volta a Portugal por um prisma completamente diferente. O lado daqueles ciclistas que sofrem e dão tudo o que têm e o que não têm para conseguirem terminar as etapas, seja por culpa de quedas, de lesões, doença ou uma fase menos boa.

Mas depois há outros momentos durante as etapas que me trazem excelentes recordações. Ontem passámos por Mirandela. E como poderia dizer o historiador José Armando Saraiva: “E foi aqui que Vitor Gamito venceu a sua primeira etapa na Volta a Portugal em bicicleta, já lá vão 21 anos!”
(http://youtu.be/b6PqpPl6viU?list=PL6B724B70F3475BBA).

Depois de passarmos mais uma montanha, esta de 3ª categoria, mas num ritmo menos desconfortável, eis que chega a Serra da Alvão. Uma subida de 1ª categoria, com 9 quilómetros de extensão, em que os primeiros 2km são mais difíceis. A abordagem á entrada desta subida foi alucinante! A velocidade na descida que antecedeu esta montanha e a “guerra” para uma boa colocação já dentro de Vila Real assustou-me! Confesso que fiquei com receio de uma queda e colocar tudo a perder. Eu que até sempre fui destemido em cima de uma bicicleta, nesta Volta ando demasiado cauteloso! Tão cauteloso que entrei muito mal colocado nesta subida e já não consegui seguir com o grupo da frente. Optei por não forçar e segui, mais uma vez, num “grupeto”, à semelhança da etapa anterior. Os restantes 50 km da etapa foram feitos num ritmo um pouco mais confortável. Vou continuar a aguardar por uma oportunidade de fazer algo de interessante numa etapa. Tenho-me sentido melhor de dia para dia, estou recuperar bem, o único senão é o meu joelho que já começa a dar sinais de fadiga, com um dor ligeira mas perfeitamente suportável.

Já tinha subido à Sra. da Graça umas 12-14 vezes em competição. Mas em todas elas tive que dar o litro pois estava a disputar os primeiros lugares das provas. Ontem foi inédito para mim. Fiz a subida integrado num pequeno pelotão mais atrasado e a um ritmo que me permitiu apreciar a festa dos milhares de adeptos que invadiram o Monte Farinha. Não deu para fazer “selfies” durante a subida, mas deu para levar uns banhos de água e até de cerveja! Já para não falar de umas palmadas vigorosas nos costados de alguns adeptos que já não tinham discernimento suficiente para calcular a força que faziam.

A meio da subida recebo a noticia que o meu Edgar Pinto tinha vencido a etapa. Fiquei tão contente que sem me aperceber acelerei mais o meu ritmo e deixei o meu grupo para trás, fazendo o resto da subida sozinho enquanto a cada passo levava uns empurrões de alguns adeptos mais entusiastas.

Foi mais uma subida à Senhora da Graça que ficará gravada na minha memória. A última em competição.

Hoje temos pela frente mais uma etapa com chegada a uma montanha – Santuário da Nossa Senhora da Assunção (Sto Tirso). Mas à semelhança da etapa de ontem, o meu maior receio será a montanha de 2ª categoria que temos que atravessar logo no inicio da etapa ao quilómetro 13. Quem ficar para trás nessa subida dificilmente terminará esta Volta a Portugal!

Obrigado a todos. O vosso apoio tem sido a minha principal energia para continuar a sonhar com a chegada a Lisboa.

Continuo a receber imensas “selfies” e fotos tiradas comigo. Obrigado a todos, no final da Volta farei um puzzle gigante com as mesmas

#ImpossibleIsNothing

domingo, 3 de agosto de 2014

Chuva, vento e frio!





Como prometido cá estou eu para vos falar um pouco da etapa de ontem. A primeira de 5 com chegada a coincidir com uma montanha. A segunda será já hoje, a mítica chegada ao Monte Farinha mais conhecida por Senhora da Graça em Mondim de Basto.

Ontem senti na pele e no osso uma daquelas etapas do Tour de France deste ano que assisti pela TV. Uma etapa com um percurso duro (5 montanhas), com chuva e vento quase do início ao fim dos 184 quilómetros! Tais eram as condições climatéricas que não houve imagens de helicóptero! Felizmente a temperatura era suportável até para mim que sou muito friorento. Onde sofri mais foi após terminada a etapa no alto da serra do Larouco, quando tivemos que fazer toda descida de bicicleta para ir ao local onde estavam estacionados os autocarros das equipas. Mesmo com bastante roupa vestida cheguei ao autocarro com as mãos congeladas e a bater o dente. Mas uma das vantagens da equipa ter autocarro é que podemos tomar de imediato um duche quente. A viagem até ao hotel em Chaves ainda demorou cerca de uma hora. Até lá deu para beber o habitual Fast Recovery e comer arroz doce. Pela primeira vez adormeci no autocarro!

Chegámos ao hotel já eram 19h30. A Ana (minha fisioterapeuta) já estava à minha espera para a massagem de recuperação. Esta massagem dura cerca de uma hora. Os meus músculos continuam impecáveis, têm recuperado bem dia após dia. O joelho, e mesmo com a chuva, tem-se portado bem.
Com os horários de chegada desta Volta a Portugal, nunca conseguimos começar a jantar antes das 21h00. Muitas vezes às 21h30. Ontem fui para a cama às 23h30 e mesmo assim ainda sentia o estômago cheio.

A única oportunidade que tenho para vos escrever estas crónicas é acordando um pouco mais cedo que os meus colegas. O despertador do meu colega de quarto – Daniel Freitas – toca por volta das 8h00-8h15, mas eu às 7h30-7h45 já estou acordado. E mesmo assim chego sempre um pouco atrasado ao pequeno-almoço, quando tenho dificuldade em parar de escrever (falar nisso o meu colega acaba de descer).

Digamos que quase não temos tempo de lazer durante a Volta. Não fosse a era dos smartphones, em que conseguimos estar em qualquer momento ligados ao mundo, pouco contacto teríamos com o “exterior”. Não parece muito bem, mas mesmo à mesa, entre o prato da sopa e o da massa, é já normal, entre dois dedos de conversa sobre estórias da etapa, estarmos agarrados ao telemóvel para vermos o que se passa no mundo digital.

Quanto às minhas sensações durante a etapa, senti-me relativamente bem. Alguma tensão sobretudo nas descidas, já que a chuva tornou o asfalto em manteiga. Houve muitas quedas, inclusive dois colegas meus (Hugo Sancho e Edgar Pinto). Neste aspecto passei incólume. Só não escapei foi ao ritmo imposto na entrada para a última montanha – Serra do Larouco.

Como não ambiciono nem estou em condições físicas para lutar por uma boa classificação – fazer 20º ou 80º tem o mesmo significado para mim - mal começou a subir, a faltar cerca de 8 quilómetros para a meta, descaí para um “grupeto” que ia num ritmo menos desconfortável. Entretanto também furei a roda da frente, mas era um furo muito pequeno e deu para terminar a etapa sem ter que trocar de roda. Mesmo com o nevoeiro, a chuva o vento e o frio, os adeptos não arredaram pé. E mesmo atrasado, foi impressionante os incentivos que recebi durante toda a subida! Os meus colegas de “grupeto” só comentavam esta situação e brincavam com ela.

Hoje temos pela frente uma das duas etapa mais duras desta Volta a Portugal. A chegada à mítica Sra. Graça. Será quase com toda a certeza a última vez que irei fazer esta subida em competição. Mesmo nos meus tempos áureos nunca me dei bem com esta subida. Talvez por ser demasiado curta para as minhas características e demasiado inclinada no último quilómetro.
Mas espero desfrutar desta subida como nunca desfrutei. Sentir a força dos milhares de adeptos que invadem o Monte Farinha.
Só não me peçam para parar em plena subida e fazer uma “selfie”. Senão ainda estou sujeito a chegar fora do controlo de tempo

Até já.
#ImpossibleIsNothing

sábado, 2 de agosto de 2014

"Qual Ronaldo!"

Qual Ronaldo!

Lousada, dia 31 de Julho, 11h30, uma hora antes da partida para a 1ª etapa da Volta a Portugal
“Gamito, podemos tirar uma foto?”,
“Bom Dia Vitor Gamito, o senhor pode fazer uma foto com os utentes do lar de idosos que vieram aqui de propósito para o ver?”
“Gamito podemos fazer uma selfie?”
“Vitor Gamito, pode tirar uma foto aqui com os meus filhos”
“Gamito pode assinar esta foto que fiz consigo em Águeda durante o prémio Abimota?”
....

Lousada, 12h30, tiro de partida para a primeira etapa
“Força Gamito!”, “Bora Gamito!”, “Gamito és um campeão!”, Vamos Vitor, vais conseguir!”, ....

Alto da Lixa, 13h30
“Muito bem Gamito!”, Bora Gamito!”, “Gamiiiitooo!!”, “Dá-lhe Gamito”, ....
Amarante, 13h50
“Força Gamito”, “Gamito é como o vinho do Porto!”, “Bora Gamito!”, “Gamito, Gamito!”, ...

Marco de Canavezes, 14h30
“Ganda Gamito!”, “Olha ali o Gamito!”, “É assim mesmo Gamito!”, ....

Penafiel, 15h20
“Força Gamito!”, “Bora Gamito!”, “Gamito és um campeão!”, “Estamos aqui Gamito!”, “Vitor Gamiiiitooo!”, ....

Lousada, 15h30
(idem)

Felgueiras, 15h50
(idem)

Penacova
(Idem)

Regilde, 16h00
Um ciclista da equipa espanhola Burgos para um colega: “?Hombre, quien es este Gamito?! !Parece Ronaldo!”

Acreditam que por mais que uma vez pensei que era eu que ia com a camisola amarela?

Terminada a etapa na Maia, dirigi-me de bicicleta para o autocarro da equipa que estava a cerca de 1000 metros. Terei demorado cerca de 30-40 minutos a chegar ao autocarro, tal foi a quantidade de fotos, “selfies” e autógrafos que dei durante o caminho! Depois demorei mais uns 20 minutos a conseguir entrar para dentro do autocarro e finalmente tomar um duche e alimentar-me. Se é cansativo? Nada! É um orgulho ser reconhecido e solicitado desta forma, mesmo não estando a discutir a vitória nesta Volta a Portugal.
Encaro como um agradecimento pela minha carreira desportiva. Isto sim é uma despedida condigna e fechar com chave de ouro os meus 30 anos de carreira!
Venham mais pedidos de fotos, selfies, autógrafos, eu aguento

Só vos peço que me enviem essas mesmas fotos por mensagem privada, aqui pelo Facebook. Gostaria de fazer um puzzle ainda maior que este.

OBRIGADO por me oferecerem esta despedida sonho!

#ImpossibleIsNothing
#VitorGamitonaVolta

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Volta da Consagração




A Volta a Portugal do meu regresso – 2ª etapa

Cada dia que passa a Volta fica cada vez mais intensa. E nem me estou a referir à velocidade dos ciclistas, mas sim à intensidade das emoções vividas e ao carinho do público. A etapa com partida em Gondomar e chegada a Braga foi mais um dia daqueles que há-de ficar gravada para sempre na minha memória, ao lado de outros dias também importantes da minha carreira, nomeadamente a chegada à Torre no ano que venci a Volta a Portugal, já lá vão 14 anos.

Bem, mas nesta crónica vou tentar não falar de emoções. Vou-vos falar da minha prestação física e uma das razões pela classificação ser tão modesta e estar já a mais de 6 minutos do primeiro classificado.

No meio de tantos elogios e incentivos, acabo sempre por receber mensagens menos positivas. “Já devias ter juízo”, “O teu lugar é em casa”, “Devias dar lugar a um ciclista mais novo e promissor”, “Já estás velho para estas coisas”, “Vais-te arrepender”, “Espero que saibas o erro que estás a cometer” – esta última foi dita por um ex-ciclista MUITO querido pelo público português há 2 dias, e etc., etc. Acreditem que mesmo eu que sou uma pessoa determinada e que encaixo muito bem as criticas “destrutivas”, muitas vezes fico a pensar que mal fiz eu, ou será que não devia ter ficado mesmo em casa! Mas depois quando chego ao local de partida de uma etapa, esqueço completamente estas criticas pois as palavras de incentivo são centenas de vezes superiores!

Além de determinado, sempre fui uma pessoa perfeccionista. Costumo dizer que até demais. Comecei a preparar esta minha participação na Volta, há cerca de 7 meses. E mesmo sabendo que nunca iria discutir os primeiros lugares da classificação geral, não pelo facto dos meus já 44 anos de idade, mas pelos 10 anos afastado e sem treino regular e consistente, treinei o melhor que sei, privei-me de muitos prazeres da vida e prejudiquei o tempo de qualidade com a família e mesmo o rendimento na minha atividade profissional.

Há medida que os meses de treinos iam passando, o meu rendimento físico foi melhorando consideravelmente, chegando a valores capazes de ambicionar fazer a tal “gracinha” que muitos me pedem que faça nesta minha última Volta a Portugal.
Sempre disse e continuo a dizer que não regressei a pensar em classificações, mas sim em desfrutar da minha última Volta sem pressões. Pressões estas que tive que conviver durante toda a minha carreira. Mas...claro que se me sentisse fisicamente bem, gostaria de oferecer a tal “gracinha” aos milhares de adeptos que me têm apoiado nesta minha aventura.

Só que nestes últimos 2 meses de preparação o meu corpo pregou-me uma pequena rasteira! Não conseguiu assimilar as cargas de treino que lhe dei o que originou uma quebra evidente no meu rendimento físico! Nestas últimas semanas antes da Volta ainda tentei remediar esta situação, fazendo apenas treinos muito suaves. Isto fez com que entrasse na Volta com falta de ritmo, mas na esperança que com o passar dos dias a forma física vá melhorando. Vamos aguardar

Para terminar este raciocínio, posso dizer que SE eu estou tivesse na mesma condição física que estava há cerca de 2 meses possivelmente estaria ainda nos primeiros 20 da classificação geral, e a vitória numa etapa poderia ser uma realidade. Mas como não estou, resta-me mesmo divertir-me, ajudar a LA-ANTARTE-ROTA DOS MÓVEIS a vencer a Volta e retribuir sempre que possível o carinho do público.
Vou encarar esta Volta como a minha Volta da consagração de uma carreira de 30 anos

Ah, continuo a receber imensos “selfies” e fotos tiradas comigo antes e após as etapas. Continuem a enviar

Hoje será mais uma etapa duríssima, com chegada à Serra da Larouco – Montalegre.

#ImpossibleIsNothing