domingo, 4 de maio de 2014

Vai ou não vai?!



Vai ou não vai?!

Quando no dia 4 de Novembro do ano passado anunciei publicamente a minha intenção de participar na Volta a Portugal deste ano, sabia de antemão que isto iria gerar polémica, controvérsia, desconfiança e inclusive “bocas foleiras”. Mas estava preparado para tudo isto, pois sabia também que a percentagem de apoio e energias positivas seria muito superior. E assim tem acontecido.

Podia simplesmente ignorar e concentrar-me na minha preparação, mas prefiro manter-vos informados e esclarecer todas as vossas dúvidas. Não tenho nada a esconder e quero que se sintam como parte da minha preparação para a prova rainha do ciclismo nacional.

Assim, e indo por pontos.

Por mais de uma vez li comentários do tipo: “Ah, isto é tudo uma jogada de marketing. Ele depois arranja uma desculpa para não ir à Volta...”.

Claro que esta aventura TAMBÉM tem uma componente de marketing! Sem esta componente, este projeto não seria possível! Deixemo-nos de hipocrisias!
De que forma eu poderia retribuir a todas as marcas que me apoiam, e que me fornecem as condições ideais para que esta aventura seja um sucesso, a não ser através da comunicação e promoção das mesmas?! Comunicação esta que tem sido sempre feita de uma forma sincera e controlada.
De que forma eu poderia retribuir a flexibilidade de horários que a empresa para a qual trabalho me proporciona de modo a poder treinar convenientemente?!
De que forma eu poderia compensar a equipa que me acolheu e que me vai disponibilizar um lugar de forma a poder realizar o meu sonho?!

Meus caros, qualquer modalidade ou evento desportivo está repleto de marcas! Até quando simplesmente COMPRAMOS uma t-shirt da marca XPTO, vamos fazer publicidade à XPTO de forma gratuita. Aliás, ainda mais caricato, pagamos para fazer publicidade a essa mesma marca!

Li, por mais que uma vez: “Então mas se ele deixou o ciclismo há 10 anos por causa de um problema de coração, e agora diz que já está bom, é porque ele nunca teve nada! Possivelmente acusou doping e arranjou aquela desculpa do problema de saúde!”
Bem, até podia fazer algum sentido! Sobretudo para aqueles que não acompanharam o desenrolar dos acontecimentos naquela época.
Meu caros, mas todos os problemas de saúde são incuráveis?! Não pode, pura e simplesmente, com o passar do tempo, ter desaparecido o problema? De qualquer forma eu nunca disse que estava curado. O que posso garantir é que tenho o problema controlado.

Para quem ainda não sabe, no primeiro trimestre da temporada de 2004, num exame de rotina, foi-me diagnosticado um BAV (bloqueio aurículo-ventricular) de grau 3. Para confirmar esse diagnóstico repeti o mesmo exame por duas vezes num espaço de 2 meses, mas esse mesmo problema nunca mais me foi detectado!
Mesmo assim o centro de medicina desportiva não me deu mais como apto valendo-se sempre do resultado do primeiro exame. Desde aí tenho feito exames completos com regularidade e nunca mais me foi detectado esse bloqueio.
A explicação médica para o facto de nunca mais me terem sido detectados tais bloqueios terá a ver com a carga de treino. Se não abusar nas cargas, sobretudo em volume (número de horas semanais) terei o problema controlado. Assim, estabeleci por precaução, que não irei ultrapassar as 25 horas semanais de treino.
Quando era ciclista profissional cheguei a fazer cerca de 30-35 horas! Mas acredito que esta limitação de treino não irá prejudicar a minha preparação para a Volta.

Então, mas se o Centro de Medicina Desportiva deu-me como inapto para a prática da modalidade há 10 anos atrás, porque razão ele irá considerar-me agora apto?
E porque não? Se eu fizer (e já os fiz) todos os exames obrigatórios e passar em todos eles, acham justo que um exame com mais de 10 anos seja a razão de impedimento?!
Ninguém mais do que eu se preocupa com a minha saúde. Se eu visse que seria demasiado arriscado ficaria confortavelmente no meu sofá, a fazer zapping e a comer tremoços.
Agora, risco existe sempre, basta estar vivo!

"Então mas porque razão é que ele ainda não participou em nenhuma prova integrado na equipa que vai representar na Volta!? Não seria benéfico até para se habituar aos colegas e ao ritmo de competição!?"

Desde o início disse sempre que não tinha condições para fazer a temporada toda de ciclismo e que este projecto teria como objectivo unicamente uma competição - a Volta a Portugal. E porquê?

1° Porque tenho uma profissão e como é evidente não poderia estar um ano inteiro sem "picar o ponto". Competir em ciclismo elite exige dedicação total, é a tempo inteiro! Treinar 2 horas antes de ir para o escritório ou após um dia de trabalho não é suficiente. Para estar em condições mínimas de fazer a Volta a Portugal, a empresa para a qual trabalho, deu-me 3 meses de licença. Esta licença começou agora em Maio. Só a partir de agora estou dedicado a 100% à preparação para a Volta.

2° Participar em provas nesta fase implicaria que eu estivesse já inscrito na federação pela equipa LA-ANTARTE-ROTA DOS MÓVEIS, obrigando está a cumprir com todas as obrigações regulamentadas, nomeadamente o pagamento de um salário, seguros, etc.
Além destes encargos ainda existe a questão da idade. As equipas do escalão continental - todas as portuguesas - têm que ter uma média de idade inferior a 28 anos. Ora eu, com 44 anos destabilizava completamente a média de idade da LA-Antarte. A solução nestes casos seria contratar mais um ciclista muito jovem. Mas mais um ciclista, mais encargos! Acabaria por me tornar num ciclista caro para o pouco que poderia competir! Então, optámos por fazer o que muitas equipas nacionais fazem. Inscreverem ciclistas a meio da temporada. Só que neste caso, ao contrário do que acontece na maioria das vezes, em vez de contratarem um ciclista estrangeiro de origem e qualidade muitas vezes duvidosa, estão a contratar um ciclista que apesar da idade já avançada, será garantidamente um valor acrescentado, não só para a equipa que o contracta, mas também para o espetáculo da Volta a Portugal e do ciclismo nacional.

Mas claro que existem requisitos e condições a cumprir. Algumas delas já foram satisfeitas. Por exemplo, já foi entregue na FPC, em tempo útil, uma declaração de intenção de participar em provas do calendário elite. Outros requisitos irão ser cumpridos no seu devido tempo.

Como vai a minha preparação física?

Como devem ter conhecimento, no inicio de fevereiro ressenti-me de uma queda que sofri na Brasil Ride em outubro do ano passado. Na altura não dei importância a uma ferida que fiz no joelho direito, mas com o aumentar da carga dos treinos, uma dor forte surgiu ao ponto de me obrigar a parar durante quase todo o mês de fevereiro. Nesta altura coloquei mesmo em causa a continuidade deste projecto! Mas felizmente rodeei-me de profissionais muito competentes, e em Março já pude recomeçar, de forma gradual, os treinos.
Neste momento já quase não sinto dor e estou a treinar sem limitações.

Como referi num parágrafo mais acima, até agora só tenho treinado a meio gás, já que tive que conciliar os horários de trabalho com os treinos. Foram 5 meses - e mais o de fevereiro sem treinar - muito desgastantes, quer a nível físico, como psíquico. Acordar muitas vezes às 6 da manhã para treinar, outras tantas a treinar depois de um dia no escritório não foi fácil! As recuperações foram lentas obrigando a que as cargas fossem mais espaçadas.
Amanhã tem inicio a segunda fase da preparação. Todo o tempo do mundo para treinar e recuperar. Será recordar os tempos de ciclista profissional.
O mês de maio será unicamente preenchido com treinos.

A partir de Junho já serei oficialmente ciclista da LA-Antarte e começo a representar esta equipa em todas as competições do calendário profissional, nomeadamente GP Abimota, Nacionais (estrada e crono), Troféu Joaquim Agostinho e Volta a Portugal.

"Mas será que ele pensa que chega à Volta e ganha?"

Não, não penso! Nunca foi esse o meu pensamento quando decidi em participar naquela que será a minha 11ª Volta a Portugal. Como já disse N vezes, quero apenas testar mais uma vez os meus limites, desfrutar dos 12 dias de prova de uma forma diferente, um pouco mais descontraída e sem a pressão da vitória.
Também me dará um prazer enorme se for uma peça importante na táctica da LA-Antarte para levar à vitória algum dos meus colegas bem mais preparados para vencer esta duríssima competição.

Posto tudo isto, e o texto já vai longo. A todos aqueles que têm criticado ou duvidado das minhas intenções, digo-vos: ARRANJEM UMA VIDA e deixem de viver a dos outros!

Para aqueles que me têm apoiado durante estes meses, o meu profundo agradecimento. O vosso apoio é fundamental para conseguir ultrapassar todas as barreiras que aparecem à minha frente.

Por último, mas não menos importante, o meu sincero agradecimento a todas as empresas e marcas que me têm apoiado, sem elas nem sequer teria começado.
O ciclismo a este nível é uma modalidade muito dispendiosa.

Agora, vamos ao trabalho que o tempo passa muito depressa.

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